O Pelourinho, com suas ladeiras de pedra e casarões coloniais coloridos, mais uma vez se torna o cenário de um dos maiores eventos literários do país: a Festa Literária Internacional do Pelourinho, a Flipelô. Em sua nona edição, a feira reafirma seu papel como vitrine cultural de alcance internacional, levando ao Centro Histórico de Salvador uma programação gratuita e vibrante que mescla literatura, música, arte e consciência social.
Durante cinco dias, praças, largos, igrejas e ruas do Pelô são ocupados por saraus, debates literários, oficinas, lançamentos de livros e espetáculos diversos. A festa exalta não só a palavra escrita, mas também a oralidade, a memória coletiva e a cultura baiana, tudo em uma ambiência que aproxima autores e público de maneira singular.
Homenagem a Dias Gomes abre os caminhos da arte
A abertura da festa foi marcada por um espetáculo ao ar livre no Largo do Pelourinho em homenagem a Dias Gomes, dramaturgo baiano de importância histórica para o teatro e a televisão brasileira. A apresentação, que misturou teatro, música e poesia, emocionou o público ao revisitar personagens e histórias que marcaram gerações. A escolha do autor como homenageado resgata não só sua obra, mas também a força política e social que sempre marcou seus textos.
Vozes do mundo e da Bahia em sintonia
A Flipelô mantém sua tradição de reunir autores do Brasil e do exterior. Nomes da literatura africana, europeia e latino-americana dividem espaços com autores nordestinos, em mesas que abordam temas urgentes como identidade, deslocamento, ancestralidade e pertencimento. Um dos destaques são os encontros promovidos no projeto “Com a Palavra, o Escritor”, que cria pontes entre diferentes tradições literárias e oferece ao público a oportunidade de mergulhar em novas narrativas.
A Casa Motiva, um dos espaços mais disputados do evento, é palco para discussões sobre literatura contemporânea, com protagonismo de escritoras, editoras e mediadoras que tratam a literatura como território de resistência e afirmação cultural.
Sustentabilidade e inclusão ganham espaço
Mais do que uma festa literária, a Flipelô se afirma também como projeto de impacto social. Uma das novidades é o sistema de coleta seletiva porta a porta no Centro Histórico, realizado com o apoio de catadores locais. A iniciativa reforça o compromisso ambiental do evento e mostra como cultura e sustentabilidade podem caminhar juntas.
A criação do Palco Flipelô também trouxe uma nova dinâmica à festa, com debates ao ar livre no Largo do Pelourinho. As conversas, que vão de samba à dramaturgia, colocam o povo no centro da discussão cultural, reforçando o caráter democrático da feira.
Jovens, crianças e editoras locais em destaque
A Flipelô reserva atenção especial ao público infantil e juvenil. A Vila Literária promove encontros sobre cultura pop, concursos e vivências criativas. No Espaço Infantil, autores consagrados da literatura infantojuvenil conduzem atividades que despertam o gosto pela leitura nas novas gerações.
As editoras baianas ganham protagonismo na Casa das Editoras, com lançamentos e venda de livros produzidos na própria terra. A feira se transforma, assim, em vitrine para a produção literária local e independente, fortalecendo o circuito editorial da Bahia.
Um encerramento à altura da celebração
A programação musical também é parte essencial da Flipelô. Grupos como a Camerata da Osba e a Orquestra Afrosinfônica ocupam igrejas e largos, encerrando o evento com apresentações que fundem música clássica, cultura afro-brasileira e literatura.
A Flipelô é mais do que uma feira: é uma afirmação da força transformadora da arte. Ao ocupar o Centro Histórico com livros, ideias, encontros e afetos, ela prova que literatura é ferramenta de mudança, de escuta e de pertencimento. Uma celebração viva do que somos — e do que ainda podemos ser.